Site que promete substituir contador é alvo de processos
Fundador diz que site não oferece serviço de contabilidade, apenas ajuda empresários a cumprirem a lei
Com a promessa de levar os microempresários a realizar a contabilidade da empresa sozinhos, o site Contador Amigo se tornou alvo de quatro ações, promovidas por entidades representativas da classe contábil.
O site, que usa slogan adaptado do movimento punk “Faça você mesmo sua contabilidade”, oferece informações para o cumprimento de obrigações fiscais para assinantes, que pagam R$ 50 por mês (veja ao lado).
Porém, argumentam os contadores, o serviço oferecido não pode ser chamado de contabilidade. Esta envolveria procedimentos técnicos mais complexos como elaboração de balanços patrimoniais e balancetes.
Os profissionais também reclamam da utilização da palavra “contador” no nome da página, que não foi criada por profissional da área.
PERCEPÇÃO
O Contador Amigo foi criado em 2011 por Vitor Maradei, 49. Com formação em jornalismo, ele é proprietário da agência digital Vad, que desenvolve páginas na internet para empresas.
Segundo Maradei, o site é o primeiro projeto de start-up criado pela Vad, a partir de necessidade que encontrou no mercado.
Ele diz que a ideia surgiu de sua percepção de que muitos empresários não eram bem atendidos por seus contadores. Por esse motivo, pensou em estimulá-los a cumprir suas obrigações por conta própria.
Maradei afirma que as informações necessárias para o cumprimento da legislação por microempresas (com Faturamento anual de até R$ 240 mil por ano) estão presentes no site.
DEFESA
Por outro lado, ele diz que não exerce a profissão de contador de maneira irregular, pois o site não faz a contabilidade das empresas, mas ajuda os empresários a compreender a lei:
“Tudo o que fiz foi juntar informações presentes na internet em um único lugar. Queremos tentar dobrar a burocracia.”
Para preparar o conteúdo, Maradei diz ter contado com a participação de um advogado tributarista e dois contadores. Profissionais prestam assessoria ao site quando necessário, afirma.
Atualmente, o Contador Amigo tem 1.027 usuários, sendo que, desse total, 350 são assinantes, enquanto os demais estão em período de teste do serviço.
QUESTIONAMENTOS
As ações contra o site tiveram início em junho de 2012, quando o Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC-SP) entrou com uma Ação na justiça federal argumentando que havia exercício ilegal da profissão.
Na ocasião, uma Ação cautelar da entidade pediu a remoção imediata do site do ar. Negada, o processo será julgado no Tribunal Regional Federal da terceira região.
Seguindo o CRC, as entidades de categoria Sescon-SP, Sindcont-SP e Fecontesp também entraram com novas ações, desta vez no Tribunal de Justiça de São Paulo.
De acordo com o advogado de Maradei, Dárcio dos Santos, dessas novas ações, a empresa já foi intimada em duas. Ele afirma ter conseguido que uma delas fosse anexada à primeira, iniciada pelo CRC.
Entidades dizem que site induz à conclusão errada
Para entidades da categoria, o Contador Amigo utiliza indevidamente a palavra contador.
Para Sérgio Approbato Machado Jr, presidente do Sescon-SP, sindicato que reúne escritórios de contabilidade, o site induz erroneamente o empresário a pensar que contabilidade seja algo simples.
Ele diz que o site apenas junta informações que estão disponíveis ao público junto com frases de efeito: “Ele não faz nada que o empresário não possa conseguir no Google”, diz.
Machado diz que a contabilidade vai além do que é oferecido pelo site. Cita o fato de a página oferecer recursos para preenchimento de livro-caixa.
Enquanto esse procedimento pode ser feito por qualquer pessoa, diz, o contador é o profissional capacitado para a elaboração de balanços.
Para o advogado Ricardo Border, que representa o Sindcont-SP e a Fecontesp, as ações surgiram por queixas de profissionais incomodados com a página e com o fato de o criador do site não ser contador. Em nota, o Conselho Regional de Contabilidade diz que não iria comentar o assunto, pois o processo se encontra sob sigilo.
Fonte: Folha de São Paulo – SP